segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ontem, com a Solenidade do Batismo do Senhor, encerramos o Tempo do Natal. Hoje, segunda-feira, já iniciamos um novo tempo: o chamado TEMPO COMUM.

Sem negar o inédito das festas anuais, o Tempo Comum desafia as comunidades a prolongar no ano inteiro a ternura da festa pascal. O domingo, festa primordial em todos os tempos litúrgicos, ganha no tempo comum uma força própria como dia memorial da ressurreição. Nele não focalizamos aspectos particulares do mistério de Cristo, mas o veneramos em sua totalidade, vivo e presente na comunidade. À luz do domingo, escutamos o testemunho evangélico de Mateus, Marcos e Lucas (anos A, B, C), sobre a vida pública de Jesus, como eventos pascais, palavra via que se faz presente com sua luz e força transformadora. Em alguns domingos, a memória da missão de Jesus cede espaço a outras celebrações do Senhor, à festas de Maria e dos santos e santas, especialmente do/a padroeiro/a.

 Celebrar o Tempo Comum

O Tempo Comum, como já falamos, começa no dia seguinte à festa do batismo do Senhor e vai até a terça-feira de carnaval; recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina no sábado anterior ao 1° domingo do Advento. Dividido nestes dois blocos, tem a duração de 33 ou 34 domingos. Neles, somos convidados a celebrar não um acontecimento especial de nossa salvação, mas todo o mistério de Cristo em sua plenitude e globalidade. O fato de se denominar "comum" não significa menos importante. Aliás, antes mesmo de se organizarem as festas anuais, com seus tempos de preparação e prolongamento, a Igreja já celebrava a cada domingo a Páscoa de Jesus. Todo culto tinha uma forte dimensão de expectativa da vinda do Senhor. Quanto mais tarde se organizaram os ciclos da Páscoa e do Natal, era para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, o que já fazia parte do cotidiano das comunidades.

Nos domingos do Tempo Comum, o mistério da Páscoa do Senhor nos é revelado pelo cotidiano de sua vida: suas palavras, ensinamentos, trabalhos, amizades, sonhos, conflitos e desafios. Os primeiros têm uma ligação maior com o mistério da Epifania e nos convidam a adorar o Senhor que se manifesta, anunciando a sua missão e chamando os primeiros discípulos. Nos outros domingos, fazemos memória dos fatos que marcaram a missão de Jesus. Os últimos domingos acentuam a dimensão escatológica do reino e nos renovam na esperança da vinda do Senhor.

Em alguns domingos, a memória da missão de Jesus cede espaço à celebração de algum mistério da vida do Senhor, de Maria e dos Santos, como é o caso do domingo da Santíssima Trindade, de Pedro e Paulo, da Assunção de Maria, da festa de Todos os Santos ou, quando coincidem com o domingo, as festas da Apresentação e da Transfiguração do Senhor, a Natividade de João Batista, a Exaltação da Santa Cruz, Nossa Senhora Aparecida e a memória dos fiéis falecidos.

O Tempo Comum é longo e as expressões litúrgicas são mais discretas, se comparados aos tempos especiais. Por isso, os ritos devem ser revestidos de permanente autenticidade para poderem ter força de novidade.

É importante ligar a celebração semanal da Páscoa aos apelos que vêm da vida, seja da religiosidade popular, da pastoral das Igrejas, das lutas pela libertação ou da preocupação com a paz mundial, tema que a CNBB provoca para a reflexão neste ano de 2015 e o Ano dedicado a Vida Consagrada.

O Ano B e o Evangelho de Marcos

Neste ano de 2015, lemos o evangelho de Marcos em quase todos os domingos. É o ano B.

O evangelho de Marcos é um relato pascal. É uma narração que traz a memória de Jesus em seu caminho até a ressurreição e tem como finalidade, não a reflexão de algum tema, mas o encontro com Jesus. De fato, a pergunta mais frequente desse evangelho é "Quem é Jesus?". Embora nos conte pouco sobre a vida de Jesus antes de aparecer no Jordão, seu nascimento ou sua infância, e não fale muito de sua consciência interior e dos seus sentimentos, o evangelho de Marcos é fundamental para se conhecer a missão de Jesus e para segui-lo como discípulos (as).


Neste evangelho, Jesus não é apresentado como a resposta, mas como a pergunta dirigida à Igreja. Assim, na primeira parte do texto, o evangelho mostra todos os tipos de pessoas com quem Jesus se relacionava, gente que era curada, discípulos e até endemoniados se perguntando: "quem é este homem?" (1,24; 4,41; 6,2-3); bem no centro da narrativa, coloca a pergunta de Jesus para a própria Igreja: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (8,29). Pedro responde, mas Jesus corrige a resposta com o anúncio da cruz, para evitar qualquer desvio no olhar dos discípulos. De fato, Pedro rejeita a cruz, tem uma visão triunfalista, e, por isso, é repreendido por Jesus (8,33).

Muitos comentadores têm procurado encontrar no evangelho de Marcos atitudes e palavras que caracterizem um prática não violenta de Jesus. Assim, por exemplo, a violação da lei do sábado (3,1-6), contrariando as leis religiosas da época, é vista como desobediência civil; a cura do leproso, rompendo com as práticas de segregação a estes doentes (1,40-45), como desmistificação da violência simbólica existente na sociedade da época; os ensinamentos de 9, 30-50: Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último..., como um pequeno catecismo sobre a não violência. No contexto atual de uma cultura da violência e da morte, este exercício de procurar em Marcos a Boa Notícia da Paz pode expressar em nossas comunidades o trabalho de educação para uma cultura de paz e de resistência, como estilo de vida próprio do discípulo/discípula de Jesus.


Texto:
Livro Dia do Senhor, ano B, Penha Carpanedo e Marcelo Guimarães, Ed. Paulinas e Apostolado Litúrgico.


Escrever algo sobre você aqui!

0 comentários:

Postar um comentário