Para o Arcebispo, o que aconteceu nos últimos anos na Tunísia, Egito, Líbia e Síria, representa uma mudança na história islâmica |
“Primavera árabe é um nome errado, não foi uma primavera, mas um oceânico derramamento de sangue. Muitos foram os mortos, mas aqueles que mais perderam foram os cristãos”. Foi o que afirmou a um grupo de jornalistas italianos recebidos em sua residência em Haifa, Israel, o Arcebispo Católico Greco-melquita Elias Chacour. No encontro ele discorreu sobre os cristãos na Síria, o diálogo com os ortodoxos e sobre o Papa Francisco.
Dom Elias é Arcebispo de Akka, São João do Acre e Toleimaide e chefe da maior comunidade de árabes cristãos-católicos presentes em Israel. São 80 mil fiéis, distribuídos em 32 paróquias e atendidos por 28 sacerdotes.
“Não sei porque a ‘Primavera Árabe’ – que não foi uma primavera porque eu não vi crescer o verde e os frutos -, provocou tantos mortos. O Bispo caldeu nos Estados Unidos, Ibrahim, Ibrahim, disse-me que os 4 mil cristãos caldeus de Detroit tornaram-se 130 mil, porque fugiram dos países onde viviam. Eu me pergunto: porque o Ocidente não intervém no que está ocorrendo na Síria? 160 pequenos lugarejos habitados por cristãos foram completamente evacuados. Muitos fugiram para a Síria, não se sabe quantos. Eu vi o nosso Bispo de Damasco chorar como uma criança: cada cristão na Síria tem necessidade da nossa ajuda, de cada pedaço de pão, de cada copo de água”, afirmou Dom Chacour.
Para o Arcebispo, o que aconteceu nos últimos anos na Tunísia, Egito, Líbia e Síria, representa uma mudança na história islâmica, pois em outros tempos existia luta pelo poder entre os mandatários do país, sem a presença do povo. “Nós não éramos felizes com os regimes totalitários – observa – mas não somos nem mesmo hoje, também pelo risco que se corre de ser aplicada a Sharia, a lei islâmica, o que seria execrável. Não sabemos o que poderá acontecer ao longo do tempo”.
Falando sobre a situação da Igreja Greco-melquita em Israel, Dom Chacour destacou a necessidade de trabalhar em favor da integração e do diálogo. Como exemplo do avanço na unidade entre os cristãos, ele citou a decisão da Igreja Greco-melquita em adequar-se ao calendário Juliano para reduzir as diferenças nas celebrações da Páscoa com as outras Igrejas, iniciativa a qual também aderiram o Patriarcado Latino e os anglicanos. Assim, a procissão do Domingo de Ramos foi realizada junto com os Ortodoxos, fechando as ruas de Haifa, com o apoio do Prefeito local.
Interpelado pelos jornalistas sobre a decisão do Papa Francisco em enfatizar ser o ‘Bispo de Roma’, o Arcebispo afirmou ver o gesto com bom grado, junto com os ortodoxos: “Foi um ato de humildade, Francisco é um herói da humildade ao salientar ser Bispo de Roma, algo que os Papas seguidamente se esqueceram, preferindo mais serem considerados Bispos do mundo”. E observou “Não se deve esquecer Roma, mas sobretudo não se deve esquecer que tudo começou aqui, e não em Roma. Digo aos meus sacerdotes que fazem peregrinação a Lurdes e Medjugorje: 'Digam a Maria que é tempo de voltar para casa'”.
Fonte: Rádio Vaticana
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