No próximo domingo, 24 de novembro, encerraremos o Ano da Fé. Um tempo de graça, que foi um convite à conversão pessoal e pastoral, e uma oportunidade para a renovação da vida e da missão da nossa Igreja.
Cada um pode fazer seu exame sobre este ano e cada comunidade pode tirar suas próprias conclusões. Penso que todos nós conseguimos frutos positivos. No entanto, ainda vemos muitos católicos que recebem os sacramentos e praticam devoções, mas não se converteram a Jesus Cristo nem se comprometem com a sua Igreja.
Também há católicos frios em sua fé, que conhecem apenas alguns pontos doutrinais, mas não chegaram a uma relação pessoal com Deus; vários deles deixam a Igreja, buscando novas experiências espirituais em outras comunidades.
Para enfrentar esta realidade, convém recordar o que o Papa Bento XVI ensinou: "Muitas vezes, preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que a fé existe, o que é cada vez menos realista. Colocou-se uma confiança talvez excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais, na distribuição de poderes e funções; mas que acontece se o sal se tornar insípido?"
E continua: "Para isso, é preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. (...) Portanto, a nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós" (Homilia, 11 de maio de 2010).
Na verdade, construímos estruturas pastorais, transmitimos ensinamentos morais, promovemos diversos tipos de celebrações, mas supomos que a fé já estava presente e talvez não tenhamos propiciado uma verdadeira experiência espiritual.
Antes de celebrar os sacramentos, antes de entrar na comunidade cristã, antes de pedir compromisso apostólico, é preciso receber o primeiro anúncio, o kerygma. Este anúncio é o que suscita a fé, que não é uma ideia, mas uma luz que vem do alto, uma experiência na ação do Espírito Santo, uma graça para entrar em comunhão com a obra de Deus realizada em Cristo, um contato pessoal com o amor inefável de Deus, que conduz à confiança e à conversão. Sem este anúncio primordial e ardente, a evangelização e a pastoral não dão frutos verdadeiros.
Miguel Pastorino escreve: "O kerygma não é uma moda ou uma nova descoberta da Igreja: é o conjunto de fundamentos de todo verdadeiro processo evangelizador, de Pentecostes até hoje. O kerygma não é catequese, não é um discurso doutrinal, não é só o testemunho de vida, não é proselitismo, nem sequer uma estratégia pedagógica prévia à catequese ou uma conversação sobre qualquer tema. Todas estas iniciativas podem ser o âmbito para o anúncio do kerygma, mas não são, em si, o primeiro anúncio".
E completa: "O objetivo do primeiro anúncio não é despertar simpatia por Jesus Cristo, mas a conversão do coração. É algo que, sem a experiência de fé do evangelizador, é impossível de realizar. Anunciar o kerygma sem fé é como falar a linguagem do amor sem estar enamorado. Só uma palavra repleta da graça, carregada de experiência do amor de Deus, pode ser um verdadeiro kerygma".
O Ano da Fé nos deixa, então, o propósito de cultivar permanentemente em nós, com a força do Espírito Santo, uma relação pessoal e real com Deus, por meio de Jesus Cristo. O acolhimento e a proclamação desta possibilidade requerem uma autêntica renovação espiritual e pastoral em nossa vida eclesial.
Não podemos continuar pensando em Cristo e anunciando-o como um personagem do passado; não podemos continuar lendo a Bíblia sem permitir a transformação que Deus faz em nós com a sua Palavra; não podemos continuar orando enquanto o coração está longe de Deus.
Não se chega à fé com discursos ou abordagens abstratas, mas abrindo-nos à força de Deus que, em Cristo, nos deu a resposta às aspirações e interrogantes da nossa vida. Como diz a carta Porta fidei, a porta da fé continua aberta e nos introduz em um caminho que dura a vida toda.
(Artigo publicado originalmente pela Arquidiocese de Medellín).
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